Educar ou Doutrinar? O debate que escolas, partidos e ideologias evitam a todo custo

Entre o ensinar a pensar e o ensinar o que pensar, há um abismo que molda gerações sem que percebam.

Num tempo em que a informação é abundante, mas o pensamento crítico escasso, a pergunta inevitável é: estamos formando mentes livres ou apenas replicadores de ideologias? A sala de aula, que deveria ser um espaço de pluralidade e investigação, tornou-se, em muitos casos, um palco silencioso de imposições sutis — ou nem tão sutis assim.

O que é educação de fato?

Ensinar é mais do que transmitir conteúdo. É provocar perguntas, não ditar respostas. Paulo Freire, em sua pedagogia do oprimido, falava da educação como um ato libertador. Jean Piaget apontava que o conhecimento é construído, não transferido. Mas quando a escola se torna um ambiente de conformação em vez de formação, algo se perde.

Ensinar conteúdo ou formar consciência crítica?

A distinção é sutil, mas decisiva. Não há problema em abordar temas polêmicos — o problema é quando se apresenta apenas uma perspectiva. Uma aula sobre economia que desqualifica uma escola de pensamento em favor de outra, sem apresentar os fundamentos de ambas, não forma, deforma. É nesse ponto que a educação se transforma em catequese ideológica.

O papel do Estado, da família e da escola

A educação é um tripé: Estado, escola e família. Quando um desses pilares impõe uma narrativa única, a pluralidade se dissolve. O currículo escolar, muitas vezes elaborado sem transparência, acaba refletindo mais a visão de quem está no poder do que a complexidade dos temas. Pais desatentos e escolas aparelhadas completam o ciclo.

A lógica das bolhas desde cedo

As bolhas não nascem nas redes sociais — elas são semeadas desde a infância. Ao não apresentar visões divergentes, o sistema educacional prepara indivíduos para rejeitar o contraditório, e não para debatê-lo. Quando o conforto da unanimidade substitui o desconforto da reflexão, forma-se o terreno perfeito para a intolerância.

Existe saída?

Sim, e ela passa por coragem. Coragem dos pais de questionar, dos professores de apresentar contraditórios, dos gestores de abrir espaço para o dissenso. Uma escola verdadeiramente plural é aquela onde se pode ler Paulo Freire e Milton Friedman, estudar Marx e Hayek, discutir religião e ciência, sem que nenhuma visão se torne dogma.

Conclusão

A liberdade não nasce de discursos, mas do embate entre ideias. Quem teme o contraditório, talvez não esteja educando — esteja apenas adestrando.


Assinado: Carlito de Souza

Informações sobre o Autor: Carlito de Souza – Corretor de imóveis e seguros, fotógrafo por hobby, motociclista por essência, e alguém que escolhe a luz dos fatos em vez da sombra das narrativas.

Fontes e Referências:

  • Freire, Paulo. Pedagogia do Oprimido.
  • Piaget, Jean. A Formação do Símbolo na Criança.
  • Lipman, Matthew. Filosofia para Crianças.
  • Morin, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro.
  • Artigos da Unesco e OCDE sobre pluralismo educacional.

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