Por Carlito de Souza
Durante mais de uma década, a sociedade assistiu — muitas vezes calada — à normalização de discursos que, sob a bandeira da justiça social e da igualdade de gênero, acabaram por fomentar uma forma velada (e por vezes escancarada) de misandria.
Em filmes, novelas, séries, editoriais de jornais e redes sociais, consolidou-se uma narrativa onde o homem tornou-se símbolo da opressão, da violência, da ignorância e da culpa histórica. O velho patriarcado foi derrubado, mas o que se ergueu em seu lugar não foi um novo modelo de convivência saudável — e sim um tribunal moral permanente.
O resultado dessa desconstrução não foi equilíbrio. Foi rancor. E o preço agora se cobra nas veias abertas da juventude.
É o que revela uma matéria recente publicada pelo Estadão, com base na pesquisa de Michele Prado, especialista em radicalização e extremismo online. A pesquisadora expõe um cenário alarmante: adolescentes entre 13 e 15 anos estão sendo aliciados por subculturas digitais extremamente nocivas. Grupos que promovem ódio contra mulheres, automutilação, glorificação de crimes, transtornos alimentares e incitação à violência têm seduzido jovens em busca de identidade e pertencimento.
E por que esses jovens — especialmente meninos — são presas tão fáceis?
Porque foram criados numa cultura onde tudo o que representam foi sistematicamente desvalorizado.
A geração que hoje se automutila e odeia a si mesma é filha de uma pedagogia de culpabilização. Desde a infância, ouviram que sua masculinidade era tóxica, que seus instintos eram opressores, que sua presença era uma ameaça, que sua fala era um silenciamento da outra.
O que poderia ter sido um movimento por igualdade transformou-se em trincheira ideológica, onde um gênero precisava ser culpado para que o outro se sentisse empoderado.
Alertas não faltaram. Warren Farrell, Camille Paglia, Jordan Peterson, Christina Hoff Sommers e tantos outros denunciaram: sem um novo modelo masculino positivo, os meninos buscariam sentido nos piores lugares possíveis. E assim tem sido. A ausência de referências construtivas deu espaço a influenciadores radicais e algoritmos que premiam o extremismo. Nas redes, ser revoltado dá mais curtida do que ser sensato.
A matéria do Estadão mostra que essa radicalização não é um fenômeno isolado. Há um ecossistema inteiro fomentando o ódio: canais no TikTok e YouTube, fóruns no Discord, grupos no Telegram — todos interligados, incentivando o comportamento autodestrutivo com recompensas simbólicas e até financeiras. Existem até transmissões ao vivo em que jovens são instigados a se ferirem ou cometerem crimes em troca de “pix”.
Estamos colhendo os frutos de uma década de desequilíbrio discursivo.
Quando o combate ao machismo escorrega para o desprezo ao homem, o que se instala não é a justiça — é a revanche. E não há justiça onde existe revanche, apenas novos ressentidos prontos para explodir.
O que vemos agora não poderia dar em outra coisa.
Famílias, educadores, comunicadores e formadores de opinião precisam parar de fingir surpresa. A polarização entre os gêneros não só criou muros entre meninos e meninas, como abriu crateras emocionais em ambos. Os primeiros odeiam a si mesmos; as segundas vivem sob pressão, ansiedade e desorientação relacional.
Este não é um chamado à nostalgia de papéis de gênero ultrapassados.
É um apelo urgente à restauração da sanidade relacional. É preciso oferecer aos meninos um novo caminho de identidade, força e responsabilidade — que não esteja baseado em culpa ou humilhação. É preciso parar de medir empoderamento feminino pelo rebaixamento simbólico e moral do masculino.
Como diria Camille Paglia:
“Quando você demoniza a masculinidade, você empurra os homens para o submundo. E o submundo sempre revida.”
Nota do autor:
Certamente este não é o típico artigo que irá viralizar, por não estar em acordo com a cartilha do patrulhamento midiático. Não obstante, traz fatos e verdades inquestionáveis — e profundamente inconvenientes — à militância adepta ao misandrismo disfarçado de discurso por igualdade. Não escrevo por aprovação. Escrevo porque a verdade grita quando os outros se calam.
Fontes:
- Estadão: “Estão ensinando nossos filhos a odiar – e a se odiar”
- Michele Prado – Pesquisadora em radicalização online
- Jordan Peterson, 12 Regras para a Vida
- Christina Hoff Sommers, The War Against Boys
- Warren Farrell, The Boy Crisis
- Camille Paglia, ensaios sobre cultura e gênero
